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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Desabafo de um canceriano

 
 
Pedro Samuel de Moura Torres
 
 

Ser canceriano é foda! Tudo começa pela emoção. Já nascemos condenados às chantagens emocionais das nossas mães e das mulheres que passam em nossa vida. A emoção incontrolável é o que mais nos perturba, nos faz sofrer, por ser mais suscetível aos sentimentos alheios. Já viemos destinados em serem os pequenos chorões, os caçulas, os mais frágeis, os mais necessitados e carentes. Eu não aguento mais essa vida de canceriano. A dependência emocional parece uma condição vital e fatal para a alma de um pobre canceriano. Nos apegamos a tudo e a qualquer coisa, basta remeter à emoção ou a uma doce recordação de um sentimento passado. Um olhar amoroso de um cachorro carente nos afeta mais que qualquer outra coisa, somos idiotas por natureza, “brincadeiras”, somos apenas puras emoções. Por isso acho que eu queria ser o valente leonino, taurino ou ariano. Possuímos um melindre de fazer rir, temos medo até da nossa própria sombra. Ainda mais nascer homem canceriano, já é mais que um carma pesado porque esse signo traz traços que a hipócrita sociedade estabelece como arquétipos puramente femininos. Portanto, nascer homem canceriano já é meio que nascer sexualmente duvidoso perante essas pessoas medíocres. Só que o que a falsa sociedade não enxerga é que a orientação sexual não tem nada a ver com as características pessoais do individuo. Realmente ser canceriano é um fardo, nascemos puros e verdadeiros no meio de tanta sujeira. Nascemos condenados a fazer parte de um mundo não pronto em ter pessoas nobres e solidárias como a gente. Alias é uma resposta que ainda não consegui achar é o porque que Deus coloca peças assim tão distintas para conviver no mesmo quebra cabeça.
 
Sinceramente acho tudo isso muito injusto! Quem é o culpado dessa confusão toda que me doe os nervos? Os sensíveis deveriam conviver somente com sensíveis, assim se entenderiam e não se magoariam. Ser canceriano já nasce com a sina de proteger os abandonados, aqueles que ninguém dá valor; os marginalizados sobram pra pobre de nós cancerianos. Parecemos uma espécie de animalzinho irracional moldados por ilustres sonhos como que incrustados dentro de nós mesmos buscássemos viver um eterno e conto de fadas em toda sua profundidade. Os cachorros, os gatos, enfim tudo que é doméstico e adestrado são relativamente coisas dos cancerianos. Nutrição? Essa palavra é com nós, nascemos tão pequenos, mas com um insaciável estomago gigante onde os pais terão o carma de manter e sustentar tamanha gulodice daquela criancinha pequena, mimada e rechonchuda. Impressionáveis, por vezes nascemos com aqueles olhos que parecem querer pular fora da órbita. Somos sempre invejados pela nossa meiga criatividade natural e pela nossa incrível capacidade de viver o nosso próprio mundo fantástico e isso incomoda aos incapazes de sonhar por si mesmo. Com uma veia poética, artística e literária, nascemos tão prodigiosos, mas em vão, num mundo pretencioso e capitalista que não reconhece esses valores. Temos o fado do romantismo e sentimentalismo piegas que é agudamente irritante. E a oscilação do nosso confuso humor nem se fala! Sentimos a tudo, até mesmo o que não existe. Cuidado! Jamais magoe ou decepcione um canceriano, pois ele pode até fingir esquecer, mas carregará a marca no seu intimo eternamente, fazendo qualquer um se sentir o sujeito mais desprezível do mundo. Com uma carência difícil de suprir, nem mesmo nossas mães bastam para aliviar esse vazio emocional que nós cancerianos somos obrigados a levar pelo resto da vida. Dentre todas as outras opções, as nossas mães são as mais ideais para nos dá a tão carecida atenção e proteção.
 
 
Com uma cara de lua já nascemos com a cabeça lunática, não sabemos bem que rumo tomar, como crianças bobas, precisamos de alguém  com boa fé para nos orientar. Com um aspecto que lembra um caranguejo, somos bem afins desse bichinho peludo e olhudo. Não intencionamos ser egoístas, muito pelo contrário, mas reagimos egoisticamente só para nos defender dos algozes. Somos estruturalmente condicionados às doenças e fraquezas, portanto precisamos de cuidados especiais e extras; não possuímos saúde de ferro como os taurinos ou qualquer outro signo, portanto nascemos preguiçosos e dormentes por natureza. A preguiça nada mais é do que uma tentativa de poupar energia para ver se sobra um pouco para o desejo de viver, que por vezes se esvaiem ao preceber que fazemos parte desse mundo cruel. Enfim, canceriano vive em seu mundo ideal que passa longe dessa infeliz, horrorosa e ameaçadora realidade. Seu interno é tão belo e puro para ser exteriorizado num local seco e que não tem nenhum mérito. Gostamos de coisas fáceis, comidinha fácil e tal, mas quem não gosta atire a primeira pedra. Temos a fama de ser o bebê da mamãe, mas se é somente esse ser divino que compreende melhor nosso frágil modo de ser. Canceriano nasce com um pé na incompreensão dos outros, pois somos sempre os primeiros a compreender quem não nos compreende. Amar? Tá muito difícil amar de verdade, como posso amar alguém que logo me trairá, me usará, me abusará e só terá ingratidão pra me dar? Então antes de receber a maldade, eu serei o primeiro a ser ingrato, só assim eu consigo me proteger. Como um intransigente enigma, não sei por que nasci, pois o mundo é um terreno desconhecido e ameaçador. Queria boiar para sempre em águas plácidas entregando-me às emoções e assim encontrar meu elo perdido, meu oásis, um lugar onde eu pudesse ter meu aconchego pleno, um lar onde eu possa recarregar minha fraca bateria, um ninho onde eu possa enfim repousar.    

                                                                                                               

                                                                                                            Pedro Samuel de Moura Torres



 
 
              

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