A chicken
Pedro Samuel de Moura Torres
There was a Sunday chicken, she was still alive,
because it was still only nine o´clock in the morning. She seemed placid
enough. Since Saturday, she curled up in a corner of the kitchen. She did not
look at anyone and nobody looked at her as well. Even when they had pick her by
fingering her intimacy indifferently, they were not able to say if she was fat
or lean. No one would be able to guess its aspirations. It was a surprise when
they saw it spreading its wings of short flight, swells its chest and in two or
three moves, reaches the wall of the terrace.
A slight instant she still
vacillated – it was enough for the cook to bawl out – and soon it was on the
roof of the neighbor, from where, in another clumsy flight, it reached the
roof. There, it felt dislocated hesitating between one tree and another. The family
was called urgently, and feeling dismayed saw the lunch near the chimney. The
homeowner, remembering his double necessity to do sporadically some sport and
to have lunch, he wore brightly a swimwear and decided to follow the itinerary
of chicken: Jumping cautiously she reached the roof where she was hesitating
and trembling, she chose another direction urgently. The persecution became
more intense. From roof to roof she was traveling around more than a block of
the street. Not used to the wild fight of life, the poor chicken had to decide
for herself which place to go, with no help of others. The guy, however, was a
sleeping hunter. And whatsoever the infimum the prey was, the cry of freedom
was released. All by herself, with no parents, she ran, she heaved, silent,
concentrated. Sometimes in the scape, she lay gasping on a roof eave and while
the dude climbed, she had time enough to recuperate. And she seemed
so free...
Uma Galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço.
Um instante ainda
vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do
vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em
adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com
urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa,
lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de
almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da
galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula,
escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De
telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a
uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os
caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um
caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista
havia soado. Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às
vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz
galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E
então parecia tão livre...
Pedaço do texto extraído do livro “Laços de Família”,
Editora Rocco — Rio de Janeiro, 1998, pág. 30. Selecionado por Ítalo Moriconi,
figura na publicação “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”.
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