A
arte é uma força vital para o desenvolvimento humano, pois a partir dela se
consegue enxergar a nossa caminhada e evolução. O homem moderno tem levado uma
vida com valores cada vez mais corrompidos pela ganância do materialismo, tem
perdido alguns dos bons princípios éticos. A arte existe exatamente para conscientizar
as pessoas sobre suas vidas, porquanto a voracidade do capitalismo está
alterando o sentido do existir. O poder da arte move, controla, prende e domina
a todos; seu mistério é uma permanência viva e de impenetrável descrição, fruto
da criação, bondade e inteligência divina.
A
arte é ofertada a todos, pelo criador, através da própria natureza: o sol, as
estrelas, o mar, o arco-íris, enfim, todos os fenômenos naturais e criações são
exemplos do significado da arte. Nesse sentido, as pessoas deveriam abrir os
olhos e estabelecer outros ideais de vida para melhorar o mundo: fazendo da
arte a primeira prioridade para vencer o materialismo. A arte pode ser a
resposta para a maioria dos problemas, especialmente para formar cidadãos
conscientes sobre como viver melhor.
Então,
o que é uma verdade artística? Há várias teorias e argumentos, algumas dessas
são conhecidas como teoria da imitação, teoria da expressão e teoria
formalista, podendo ser agrupadas numa mesma categoria, a das teorias
essencialistas. O discurso da arte é bastante polêmico e controverso, devido
aos seus complexos e diversos significados, pois o seu conceito é extremamente
subjetivo e varia de acordo com a cultura a ser analisada, período histórico ou
até mesmo indivíduo em questão.
A
definição mais literal da palavra arte, conforme o dicionário Aurélio é “capacidade que tem o ser humano de pôr em
prática uma idéia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria.” A sua significação
toma amplitudes múltiplas e diversificadas ultrapassando a cronologia do tempo.
A necessidade e o uso da arte vêm desde os primórdios e tornou-se costume
prevalente em todas as culturas existentes na terra. Após sua origem, há
milhares de anos, a arte evoluiu alcançando uma admirável posição na sociedade.
De
acordo com Almeida, Aires, vários filósofos se referiram à arte
como imitação. Platão não se aprofundou
na filosofia da arte, mas com sua teoria das idéias e das formas, contribuiu
para ilustrar que os conceitos abstratos como beleza, amor, arte, enfim, tudo o
que existe, são absolutos, eternos e perfeitos, porém existentes apenas em
outra dimensão. A arte humana, como está inserida no mundo concreto percebido
pelos sentidos, e portanto, imperfeito, é uma tímida reprodução desse mundo
essencialista e perfeito. Como explanou Ariano
Suassuna, Platão justifica que a alma humana já vivenciou esse mundo
idealizado e que a faculdade de desenvolver virtudes tais como: artes,
sabedorias e beleza, aqui na terra, vêm das meras reminiscências, memórias desse
outro mundo. Contudo a alma sofre pelas recordações, saudades, vivendo em
eterna busca desse mundo idealizado, porém num mundo imperfeito e incompleto.
Eis um texto de Platão o qual se refere a essa reminiscência:
A alma é imortal. Renasceu repetida vez na
existência e contemplou todas as coisas, existentes tanto na terra como no
Hades, e por isso não existe nada que ela não conheça. Não é de espantar que
ela seja capaz de evocar a memória a lembrança de objetos que viu
anteriormente e que se relacionam tanto com a virtude quanto com as outras
coisas existentes. Toda a natureza, com efeito, é uma só, é um todo orgânico, e
o espírito já viu todas as coisas. Logo, nada impede que, ao nos lembrarmos de
uma coisa (o que nós, homens, chamamos de saber), todas as outras coisas
ocorram imediata e maquinalmente é nossa consciência. A nós, compete unicamente
o esforço, a procura sem descanso. (PLATÃO,
“Mênon”, oh. cit., 81, p. 79. Apud.
SUASSUNA, Ariano).
A
arte ostenta e manifesta sentimentos profundos. É uma das performances humanas
mais sublimes e elevadas, é a experiência intima com o espírito universal. É um
encontro com o sobrenatural aproximando-se da divindade. Segundo o senso comum,
a verdade da arte é transcendental, concebendo-a como uma inspiração divina.
Realmente, ela é um atributo da alma, portanto, não facilmente decifrável. É a
tentativa humana de se aproximar a perfeição original criada por Deus. A arte é
um caminho que transporta os sonhos para o mundo. É a procura e anseio pela
elevação dos sentidos e aprimoração do ego. A arte pode ser universalizada ao
representar o “amor” em si.
A natureza da arte, por si mesma, implica em
contemplação, tem a faculdade de suscitar sensações de bem-estar. É o gozo e
êxtase da contemplação. A arte é a busca incessante por perfeição, beleza, paz
e tranqüilidade, pois o ideal, a medida proporcional que traz harmonia nos
inquieta e instiga pela busca da felicidade. É o culto dos sentidos, e estes
precisam ser desenvolvidos e aguçados para se aproximar da beleza e verdade
artística. De acordo com autor Ariano Suassuna,
como Platão acreditava que a alma já conhece a perfeição e o absoluto, ela
tenta trazê-la a esse mundo. Pois a terra é apenas um reflexo do mundo das
essências. E reconhecendo a decadência do mundo terrestre, ele conclui que uma
alma elevada preza as virtudes eternas como, sabedoria, generosidade e outros,
já que esses não sofrem a limitação e declínio do tempo terrestre. No texto
seguinte do “Fedro”, Platão se refere ao deleite e à virtude da beleza sinalizando
à sensibilidade da contemplação e às importâncias das virtudes eternas:
Quanto
à beleza, já te disse, ela brilhava entre todas aquelas Idéias Puras, e, na
nossa estada na terra, ela ainda ofusca com seu brilho todas as outras coisas.
A visão é, ainda, a mais sutil de todos os nossos sentidos. Mas não poderia
perceber a sabedoria. Despertaria amores veementes, se oferecesse uma imagem
tão clara e distinta quanto aquelas que podíamos contemplar para além do céu.
Somente a beleza tem esta ventura de ser a coisa mais perceptível e elevadora. (PLATÃO,
“Fedro”, ob. cit. p. 223. Apud.
SUASSUNA, Ariano).
De
uma maneira mais técnica, pode-se dizer que a verdade artística é diferente da
verdade cientifica, política e de outros tipos de verdades. A melhor definição
é que a verdade artística sempre envolve a sensibilidade, a intuição, os
sentidos; é um esboço do sensual. Uma verdade artística não é uma cópia exata do
mundo material, nem uma sensível expressão estática. É uma experiência
sensorial e inventiva, é um conhecimento humano sensível-cognitivo, o qual
objetiva despertar a apreciação estética e artística, levantando reflexões
sobre sua história e contexto na sociedade humana. Desse modo, a arte funciona
como um transporte de comunicação, conscientização e sensibilização de
conhecimento genérico.
Segundo
o livro Reflexões sobre a arte, a
arte é um conhecimento humano articulado ao âmbito do sensório-cognição,
através dela se expressam significações, emoções, sensibilidades, tipos de
criação sobre o mundo da natureza e cultura. Uma verdade artística concerne
tanto ao campo da sinestesia (as sensações) como do abstrato (idéias): uma
breve referência à teoria platônica; sendo também, um evento e processo
cognitivo de pensamentos pertencentes a uma esfera idealista que constantemente
tenta tomar forma no mundo físico. A arte é um empreendimento de recriação e
compreensão do mundo por meio dos sentidos, mas um pouco mais diferente do
processo laborioso e intricado que empenhamos ao recorrer pela lógica racional.
Não obstante, acredita-se que a arte caminha atrelada à lógica e à simetria.
Geralmente,
como uma obra de arte requer um contato com os sentidos e conseqüentemente
solicita uma transmissão, a arte é particularmente considerada pelos aspectos
estéticos e comunicativos, visto que é tendenciosamente uma troca e permuta
entre a obra e o espectador. A essência da arte é sempre relacionada ao
admirável, harmônico e estético. Conforme o autor Ariano Suassuna, derivado
do grego, a palavra “estética” significa “sentir” e envolve um conjunto, uma
rede de percepções que existem nas várias práticas e conhecimentos humanos
direcionados ao bom e belo. A estética se designa às sensações sensíveis que causam
prazer, ao gosto e a volição, às criações pertinentes ao campo do subjetivo,
que diferentemente da lógica racional do pensamento, se apresenta livre de
regras mais ou menos estabelecidas. Entretanto, a estética segue uma ordem que equipara
e delimita a harmonia geral.
Sendo
assim, a experiência estética humana estende-se a várias esferas de sua
existência, de seu entendimento, sua identidade, e finalmente no humanizar-se;
provendo deleite, comovendo as pessoas e levando-as a refletir sobre as suas vidas,
porém, ela sempre obedece a certos princípios e normas que determinam o que é
agradável. A arte é um prazer instituído pela relação de complemento e
plenitude do interno com o externo, do eu e o outro, quando o sujeito e o
objeto se integram em uma fusão de harmonia e apreciação. Entretanto existem
pessoas que relatam não haver interesses e feições pela arte e nem por
quaisquer movimentos relacionados a mesma, mas o que essas pessoas não enxergam
é que ela não se restringe a pinturas ou esculturas, há um vasto universo da
arte, e essas pessoas podem se informar e descobrir sobre cada uma delas
procurando encontrar a que melhor se adéqua aos seus critérios e percepções de
arte.
Toda
criação artística, uma obra de arte é o resultado da genialidade do homem. É um
feito do homem, é o fruto da ilustre inteligência que a raça humana é dotada. Ao
se aprofundar na filosofia da arte, é possível ir mais além, deparando-se com o
antigo mistério, quando se remonta a anedota do ovo e da galinha, nesse caso,
quem vem primeiro? A arte ou o artista? É comum se inferir que a arte é a obra
do artista, dessa maneira, reduze-se a arte ao arbítrio do ego. No entanto, não
se dá conta que: se quem cria a obra é o artista, por sua vez, é a obra de arte
quem cria o artista. Há uma relação de interdependência, pois não há poeta sem
poesias, pintor sem pinturas, cantor e músico sem canções, escultor sem
esculturas, ator sem espectadores, etc. Assim sendo, na mesma medida em que se
diz que o artista é quem cria a obra, é a obra quem revela que o artista é
artista.
É fundamental compreender que uma verdade
artística é um rascunho do mundo palpável, que por sua vez, é uma tentativa de
reprodução do mundo das idéias e das formas. É uma proposição sobre uma nova
definição do que é nossa relação de percepções com o mundo. No entanto, se arte
parece ser tão significativa hoje, é porque a influência da globalização e do
capitalismo nos impõe a criação de um novo tipo de universalidade, a qual é
sempre uma nova sensibilidade e uma nova relação intuitiva com o mundo. Como a
arte evolui com o tempo, ela também promove mudanças profundas em valores,
conceitos e práticas, mantendo a sua presença.
Mediante
todas essas virtudes da arte, cabe ao homem dispor-se dela em seu benefício. A
vida sem a arte seria vazia e limitada em matéria, seria um espaço oco, sem
essência e sentido, a arte é alimento da alma, é o combustível que dá vida e
conduz toda a humanidade. De fato, sem a criação artística, o triunfo do poder
forçado e universalização do dinheiro, pode ser uma real possibilidade. A arte
pode ser uma oportunidade legítima de criar algo novo em detrimento da
universalidade abstrata chamada de capitalismo.
REFERÊNCIAS
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da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
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