Pedro Samuel de Moura Torres
1.
Vida
pré-escolar
Sou
o quarto e ultimo filho de uma família composta por meu pai Rivaldo, minha mãe Amélia,
meu irmão mais velho George (atualmente casado), minha irmã Jaqueline
(atualmente casada) e meu irmão companheiro Júnior que está para se casar. Sou
filho de um pai agricultor (aposentado) e uma mãe professora (aposentada).
Nasci no ano de 1982 em Biritinga, BA, uma pequena cidade interiorana com
apenas vinte e um mil habitantes. Realizei todos os meus estudos, do fundamental
ao ensino médio, em escolas municipais e estaduais, pois nesse distrito não se
havia escolas privadas. Fui alfabetizado na escola Chapeuzinho Vermelho pela
professora e, por coincidência, prima Rita. Minha irmã propala que essa prima
foi e continua sendo uma ótima professora e que ela foi a responsável pela
minha leitura precoce.
2.
Alfabetização
Tenho
vagas lembranças da época do jardim-de-infância, um dos dados mais fortes na
minha memória é que a escola era próxima a rua onde eu morava. Durante a alfabetização,
eu havia encontrado a garota pela qual fiquei apaixonado por toda a infância,
após receber um beijo inocente no rosto da loirinha cobiçada por todos e filha
do gerente do banco, na época. Eu tinha a fama de ser um aluno aplicado e
bastante adiantado, pois não mostrava dificuldade na aprendizagem.
Consideravam-me um aluno obediente e inteligente e, por justificativa, filho de
uma professora. Lembro também das merendas que minha mãe, minha irmã ou minha
babá me levavam. Dizem que eu era muito mimado e paparicado já que estava
sempre rodeado de cuidados e de atenções femininas. Na época de infância, tive
amizades bastante esporádicas. Apenas consolidei amizades a partir da
adolescência.
Como
minha mãe foi professora, eu tive um alicerce razoavelmente sólido na minha
formação fundamental, pois dispunha de livros e recursos básicos para a minha
alfabetização. Minha mãe também me levava para as suas aulas, para me
introduzir no mundo da leitura e escrita. Todavia, devido a sua ausência em
casa, por estar sempre ocupada com a direção de escola estadual, encarregou à
minha irmã os cuidados e acompanhamento dos meus estudos. Minha irmã Jaqueline,
sempre preocupada com o meu futuro, contribuiu muito para o meu caminho
acadêmico, pois ela sempre esteve a me estimular e encorajar para os estudos.
Ela sempre me aconselhava que nós teríamos de lutar e estudar para sermos
alguém na vida. Ajudava a tirar minhas dúvidas, conversava e debatia comigo assuntos
relativos à escola e até da própria vida. Ela tinha prazer em me presentear
gibis ou revistas educativas para me incentivar na leitura. Até mesmo se propôs
a me dar aulas para disciplinas primárias, porém, mediante pagamento. Na
infância ganhei muitos discos coloridos da Disney e eu sonhava ao escutar as histórias
de fadas e princesas. Minhas leituras também eram muito fantasiosas e
imaginativas, típicas da idade, com maior quantidade de ilustrações do que de
escrita. Na Adolescência, comecei a ler alguns livros bem mais verbais; como
Iracema, a ilha perdida, o mulato, etc.
3.
Época do ensino médio e prelúdios do encaminhamento
No
Ginásio, eu tinha interesses bastante variados e diversos, pois ao passo que
gostava de geografia, ciências, estudos sociais, português e língua
estrangeira, detestava historia, literatura, matemática, química e física.
Entretanto, foi logo no primeiro ano do ginásio que despertou o meu interesse
pelo idioma inglês. Meu professor Sérgio, da quinta série, me serviu de grande
impulso para o gosto da língua estrangeira, já que era um excelente e querido
professor, despertando admirações dos alunos. Eu fiquei famoso na escola por
ler textos em inglês sem hesitar e pelas notas altas. Todos os meus colegas
queriam sentar próximo de mim na hora das provas ou sempre me pediam ajuda.
Embora
eu tivesse preguiça, e conseqüentemente, me dispersasse nas aulas de
matemática, quando entrei em um curso extra, passei a virar CDF em matemática
também. Vivi nessa época como o exemplo de aluno intelectual para os
professores e o NERD para os coleguinhas. Tal posição me colocou em uma
condição que não me agradava muito: as pessoas se aproximavam de mim ou com
amedrontada admiração ou com interesses intelectuais.
3.1
Momento
rebeldia e encontros desviantes
Percebendo
o outro lado da moeda, a possível solidão e distanciamentos dos outros, eu
procurei mudar, pois, no meu intimo, queria vivenciar as relações humanas. Foi
no Ginásio que encontrei a garota que mudou as minhas perspectivas. Bárbara, minha
colega que se tornou minha primeira amiga e minha primeira paixão. Ela foi o
instrumento que me “tirou do bom caminho”, com ela passei a ver o lado mais
malandro e gracioso. Para eu filar uma aula era como se meus pais fossem
descobrir e seria o fim do mundo, o fim do filho bom, a decepção mais absurda.
Contudo, me deixei ser seduzido e vivemos momentos intensos que guardo até hoje
na lembrança. A partir desse período já havia perdido o cartaz de aluno
exemplar, passando a fazer recuperações, pescar nas provas, a filar aulas e
viver um pouco mais a vida fora da prisão do dever da aprendizagem e da imagem
de certinho.
O
Ensino médio foi na minha adolescência, uma fase gostosa e de descobrimentos,
mas com alguns desafios. Tinha uma ótima relação com quase todos os
professores; exceto uma professora de quem trago lembranças negativas e
traumas. Essa professora permaneceu como um trauma que me afetou até hoje nos
meus relacionamentos com os professores. Na oitava série, passei a conhecer a
literatura, li livros de José de Alencar, Machado de Assis, Maria José Dupré,
etc. Adorei ler alguns livros e outros não. O vigor do inglês, nessa época,
para mim abrandou imensamente, talvez por falta de um professor competente;
pois eu parecia saber mais inglês que ele. No segundo grau, tive que me
submeter a fazer magistério por falta de opção. Concluindo o ensino médio em
magistério, visto que só havia magistério em tal cidade, tive que estagiar nos
níveis de primário (primeira à quarta série).
4. Primeira formação; a busca de
novos objetivos
Após
a formatura de magistério, eu comecei a trabalhar em escolas ensinando níveis
de primário na zona rural e urbana. Descontente com a posição de professor
primário, eu preferi trabalhar como secretário de jardim-de-infância. Nesse
meio termo, eu fiz pequenos cursos de informática e computação. Insatisfeito e
irrealizado com a minha situação profissional, eu decidi abdicar do meu
conforto familiar e me aventurar em uma oportunidade oferecida pelo prefeito da
cidade, de vir a Salvador para estudar morando em residência universitária.
4.1
Novo rumo e adaptação
Foram
anos de muita luta, sofrimento e ao mesmo tempo, distração, pois ao passo que
teríamos que nos tolerar: a falta de privacidade que me sufocava, a diferença
de horário de cada um para dormir, administração da casa, desentendimentos
rotineiros que pareciam estar cada vez mais freqüentes, etc., tivemos momentos
agradáveis e hilários, onde nos uníamos e compartilhávamos nossas experiências.
Ali vivi por quase dois anos.
O
primeiro ano aqui em Salvador foi um ano de adaptação, nossos pais de cidade
pacata, tão preocupados, recomendavam-nos que teríamos de andar sempre juntos
para nos defender, já que não conhecíamos nada. Como o ensino que tivemos não
foi satisfatório para ajudar a passar em um vestibular, freqüentávamos
cursinhos preparatórios. Primeiro estudamos no cursinho Status da Moraria. Tudo
era novo, e a gama de assuntos e detalhes nos assustava. Sentíamo-nos incapazes
de absorver tanto conteúdo em tão pouco tempo. Contudo, não desisti e continuei
tentando. Em meio a esse combate pela aquisição de conhecimentos, também
afrontava em mim o conflito, a dúvida sobre a escolha profissional. Não tive
tempo para fazer o teste vocacional e, ao passar pela crise de identidade
profissional, despertei interesses totalmente díspares.
4.2
Busca vocacional
Logo
no inicio, pensava na possibilidade de prestar vestibular para direito ou
medicina, pelo status e possível satisfação financeira que tais cursos
supõem-se oferecer. Entretanto eu sentia o grande desafio que teria pela
concorrência assustadoramente grande, sem dizer também que eu não possuía a
aptidão para tais cursos. Também tive certa curiosidade por odontologia e
fisioterapia, já havia até pesquisado as faculdades que ofereciam tais cursos,
mas não me atrevi. Eu admirava muito geografia e nutrição e até conjecturei a
possibilidade de fazer oceanografia.
No
segundo ano aqui em Salvador, ao freqüentar o cursinho Sartre fiz o simulado
para biologia, pois naquele momento estava quase convicto que seguiria esse
rumo. Tendo uma razoável pontuação, julguei ter feito a escolha certa. No
entanto minha fraqueza se situava em matérias de ciências biológicas, como
química e física que seriam requisitos básicos para o curso. Percebendo o
contra-senso, decidi buscar outras alternativas. Desse modo, ao final do ano,
já não estava mais convencido de que iria prestá-lo. Foi quando tentei fazer
psicologia, passei na UNIFACS, mas não a cursei, porque não podia custeá-la.
5. Uma semi-reafirmação e
estabilização de minha escolha
No
terceiro ano aqui em Salvador, devido aos conselhos de pessoas próximas,
acreditei que deveria tentar Letras, mas, mesmo aparentemente decidido, no
fundo, duvidava. Continuei estudando no Sartre, onde aprendi os macetes e
focalizei nas exigências da Federal para passar em Letras. Lá no Sartre,
também aprimorei bastante os conhecimentos gerais e principalmente na
construção de redações, o que me ajudou extremamente a passar na UFBA.
Percebendo o meu gosto por línguas, eu intuí que deveria fazer algo que as
aprendesse, e que de algum modo, as aplicasse. Pedi e consegui uma bolsa para
estudar inglês no ACBEU, pela necessidade de uma segunda língua e como mais um
bom requisito para o currículo.
Concluí
o curso do ACBEU com direito a cerimônia e diploma. Nesse ano, encontrava-me
mais centrado e decidido em meus objetivos, pelo menos, em qual contexto eu
seguiria. Ao consolidar esse gosto peculiar por idiomas, deduzi que faria
Turismo e Hotelaria, ou até mesmo, Relações Internacionais. Até então achava
que Letras não me serviria tanto pelo fato de depreciar literatura e
vernáculas. Prestei e passei em Turismo na FACTUR, contudo, decidi não
cursá-la, influenciado por professores de cursinho e principalmente por um tio
que desconfiava da competência daquela instituição, o que me trouxe
inquietações.
Não
obstante, já perto das inscrições, persuadido e semi-orientado por uma
professora de inglês do cursinho Sartre, eu decidi prestar vestibular para
Letras vernáculas com língua estrangeira em inglês (licenciatura). No final do
terceiro e último ano de tentativa, mas já decido mais ou menos qual rumo
seguiria, fiz vestibular para letras com inglês na UCSAL e UFBA, na UNEB
aventurei turismo. Perdi na UNEB, mas passei na UCSAL, onde freqüentei apenas
duas semanas porque havia recebido o resultado positivo da UFBA.
6. O ingresso na UFBA e novas
perspectivas
Após
duas tentativas, consegui entrar na UFBA. No início foi muito impactante, a
minha experiência com literatura e lingüística me atemorizou. Pensei em
desistir, mas ao perceber que havia a possibilidade de mudar de curso, não
deixei me abater. Pedi a transferência interna de letras vernáculas com língua
estrangeira (licenciatura) para língua estrangeira (bacharelado) a fim de
trabalhar com idiomas aplicando-os em traduções e interpretações ou veiculando
à hotelaria. Mesmo com a transferência não fui poupado de cursar disciplinas
que eu achava desnecessárias e insuportáveis. Até sofri muito com três
disciplinas de literatura vernácula, pois freqüentava as aulas como que fizesse
algo sobre pressão. Mas já finalizei essas matérias mais pesarosas e me sinto
mais tranqüilo e direcionado para o que eu gosto. Hoje, me encontro com
conhecimentos em língua inglesa, cinco semestres de francês, três semestres de
italiano e começando agora com espanhol. Estou no penúltimo semestre e pretendo
aproveitar meus conhecimentos lingüísticos em múltiplas possibilidades, mas a
que eu mais evito é a educação, pois me julgo desmotivado e sem aptidão para
lecionar.
Pedro Samuel de Moura Torres
Pedro Samuel de Moura Torres
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