O
Porto (tradução)
Pedro Samuel de Moura Torres
O contêiner balançava enquanto o guindaste transferia-o
para o navio. Como se estivesse flutuando no ar. O sprider, o mecanismo que atrela
o contêiner ao guindaste, não conseguia controlar o movimento. Os portões mal
fechados se abriram de repente e começaram a chover dezenas de corpos que
pareciam manequins. Mas as cabeças se esmagavam no chão como se fossem crânios
de verdade, e de fato eram. Saiam das
cargas homens, mulheres e também alguns garotos, todos mortos. Congelados,
colados uns aos outros. Enfileirados e amontoados como sardinhas enlatadas.
Eram os chineses que não morrem nunca.
Os eternos que passavam os seus documentos uns aos outros. Eis o local onde se acabarão. As fantasias
mais cruéis imaginavam os corpos cozinhados nos restaurantes, enterrados no
jardim ao lado das Fábricas, jogados na boca do vulcão Vesúvio. Os mortos
estavam lá e das cargas caíam em dezenas, com o nome anotado num cartão fixado
a uma corrente em volta do pescoço.
Todos reservaram dinheiro para serem
enterrados nas suas cidades chinesas. Conservavam uma porcentagem do salário,
em troca garantiram uma viagem de retorno, uma vez já mortos. Um espaço em um
contêiner e uma brecha em qualquer pedaço de terra chinesa. Quando o operador
de guindaste do porto me contou, pôs as mãos no rosto e continuava a olhar-me
pelo espaço entre os dedos. Como se, escondendo seu rosto, lhe desse mais
coragem de me contar. Ele viu corpos caírem e não teve necessidade nem mesmo de
acionar o alarme, de advertir alguém. Apenas fez com que o contêiner tocasse a
terra e dezenas de pessoas aparecessem do nada, recolocaram tudo dentro e com
uma bomba limparam os restos. Era assim que as coisas andavam. Ele não
conseguia acreditar, esperava que fosse uma alucinação devido ao excesso de
horas extras. Fechou os dedos cobrindo completamente seu rosto e continuou a
falar choramingando, mas eu não conseguia mais entendê-lo.
Il porto (original)
Il container dondolava mentre la gru lo spostava sulla nave. Come se stesse galleggiando nell'aria, lo sprider, il meccanismo che aggancia il container alla gru, non riusciva a domare il movimento. I portelloni mal chiusi si aprirono di scatto e iniziarono a piovere decine di corpi. Sembravano manichini. Ma a terra le teste si spaccavano come fossero crani veri. Ed erano crani. Uscivano dal container uomini e donne. Anche qualche ragazzo. Morti. Congelati, tutti raccolti, l'uno sull'altro. In fila, stipati come aringhe in scatola. Erano i cinesi che non muoiono mai. Gli eterni che si passano i documenti l'uno con l'altro. Ecco dove erano finiti. I corpi che le fantasie più spinte immaginavano cucinati nei ristoranti, sotterrati negli orti d'intorno alle fabbriche, gettati nella bocca del Vesuvio. Erano lì. Ne cadevano a decine dal container, con il nome appuntato su un cartellino annodato a un laccetto intorno al collo.
Avevano tutti messo da parte i soldi
per farsi seppellire nelle loro città in Cina. Si facevano trattenere una
percentuale dal salario, in cambio avevano garantito un viaggio di ritorno, una
volta morti. Uno spazio in un container e un buco in qualche pezzo di terra
cinese. Quando il gruista del porto mi raccontò la cosa, si mise le mani in
faccia e continuava a guardarmi attraverso lo spazio tra le dita. Come se
quella maschera di mani gli concedesse più coraggio per raccontare. Aveva visto
cadere corpi e non aveva avuto bisogno neanche di lanciare l'allarme, di
avvertire qualcuno. Aveva soltanto fatto toccare terra al container, e decine
di persone comparse dal nulla avevano rimesso dentro tutti e con una pompa
ripulito i resti. Era così che andavano le cose. Non riusciva ancora a
crederci, sperava fosse un'allucinazione dovuta agli eccessivi straordinari.
Chiuse le dita coprendosi completamente il volto e continuò a parlare
piagnucolando, ma non riuscivo più a capirlo.
Filme
Nenhum comentário:
Postar um comentário