Piaget, o mais influente teórico da
psicologia do desenvolvimento do século XX, teve grande participação e
contribuição para o entendimento do processo de aprendizagem infantil. Em suas
pesquisas, utilizava de observações naturalísticas e técnicas experimentais
informais, examinando seus próprios filhos e logo em seguida uma população
maior. Ele definia a inteligência como a competência de adaptação ao ambiente
ou às situações novas. De acordo com as suas observações, Piaget concluiu que o
processo de desenvolvimento cognitivo da criança sucede através de uma
sequência de fases regulares e invariáveis, ou seja, há uma certa uniformidade
na natureza do desenvolvimento, como se seguisse uma mesma sucessão de
estágios. Porém, tais sequências dependerão da mediação entre a estrutura
biológica inata da criança com a sua ação e experimentação no meio ambiente.
Piaget denominou o primeiro estágio
do desenvolvimento cognitivo como o período sensório-motor, o qual se desdobra
desde o nascimento até por volta dos dezoito meses ou dois anos de idade. Nessa
fase a qual antecede a aquisição da linguagem, como o nome sugere: sensório de
percepção, e motor de ações, a criança desenvolve gradualmente suas percepções imediatas,
juntamente com a suas coordenações motoras, executando ações cada vez mais
complexas; contudo, nesse período o infante ainda não se equipou da
representação mental intrínsecas do pensamento, nem da linguagem. A inteligência
elementar do bebê tende a progredir a partir dos seus simples e inatos reflexos
os quais intercorrem por meio da percepção de modo vago sob o meio ambiente; tal
percepção se torna cada vez mais complexa, distinta e precisa, levando-o,
portanto, a empreender reações cada vez mais organizadas e sistemáticas.
1
- Epistemologia Genética
Epistemologia
é a Filosofia da Ciência. A parte que estuda o fenômeno da ciência, do
conhecimento. Genética significa a construção do conhecimento, a evolução que
ocorre no organismo, na vida da criança, durante os estágios estudados por
Piaget.
A
Epistemologia Genética busca responder a uma pergunta: Como o Homem, sozinho ou
em conjunto, constrói o conhecimento? Ou seja, como é que passamos de um nível
de conhecimento para um nível acima. E como a criança é o ser que,
essencialmente, mais constrói conhecimento, ele fez pesquisas com crianças, mas
sua pergunta é para todos os seres humanos.
2
– Inteligência
Para
Piaget, inteligência deve ser definida enquanto “função” e enquanto
“estrutura”. Enquanto função, para ele, a inteligência é uma adaptação. Os
processos de inteligência referem-se à adaptação ao meio, à sobrevivência do
indivíduo. E do ponto de vista estrutural, inteligência é uma organização de
processos que permitem um nível de conhecimento, dependendo da complexidade
dessa organização. Ou seja, o crescimento da inteligência não se dá pelo acúmulo
de informações, mas sim pela reorganização das informações. Crescer é
reorganizar a própria inteligência, para ter-se mais possibilidades de
assimilação.
3
– Conceitos sobre o processo da cognição
3.1 –
Assimilação
Representa o processo da introdução ordenada de dados conhecidos ou
novos na experiência, de acordo com os esquemas existentes em um
indivíduo. Quando uma pessoa vai entrar em contato com um meio, um objeto de
conhecimento, ela retira desse objeto algumas informações e essas informações
novas causam um desequilíbrio no organismo, pois a principio o desconhecido lhe
é um desafio que produz um conflito no esquema do organismo, no caso, nos
esquemas cognitivos que a criança dispõem no dado momento em que se depara com
uma experiência sensorial inusitada.
3.2
– Acomodação
É o
processo que ocorre quando o indivíduo se defronta com um novo problema, a
organização e os esquemas mentais que a pessoa tem, para entender o novo, é
capaz de se modificar e se adaptar para dar conta das singularidades dos novos
objetos.
3.3
– Equilibração
A
equilibração é um processo fundamental no desenvolvimento do pensamento e tem
origem na necessidade que o homem sente de equilíbrio quando a criança se
defronta com teses contraditórias e conflitos. Então através da assimilação e
acomodação, a criança pode vencer as contradições e estabelecer o equilíbrio.
Na
primeira fase: O uso dos reflexos.
Compreende apenas o primeiro mês e é chamada de simples reflexos. A criança já tem uma
simples estrutura mental trazida desde o nascimento que são os seus reflexos
inatos, mecanismos hereditários, as primeiras tendências instintivas (respiração,
nutrição e primeiras emoções (satisfação e insatisfação) os quais serão
exercitados através da sua mediação com o meio ambiente, vindo então a se
modificarem, a se elaborarem, tornando cada vez mais eficientes. Um dos
primeiros contatos que o infante faz com o mundo é através da amamentação,
desse modo, observa-se que a criança instintivamente já vem propensa a sucção,
com leves movimentos na zona oral, como se por reflexo, buscasse a sua
sobrevivência nutricional pelo seio
maternal.
Na
segunda fase: Reação circular primária, as primeiras adaptações adquiridas.
Se estende mais ou menos do primeiro até o quarto mês onde ocorre a coordenação de reflexos
e respostas. É a fase dos primeiros hábitos motores, das primeiras percepções
organizadas e dos primeiros sentimentos diferenciados onde a criança aos poucos
passa a tomar controle sob seu corpo
e isso começa por acaso quando ela leva
a mão a boca involuntariamente, e descobre que aquela ação lhe provoca uma
satisfação, o sensório e o motor atuando juntos, desse modo, o infante vai agindo
através desses estímulos sensoriais os quais lhe impelirão a evoluir suas
habilidades motoras. Se por acaso uma nova ação lhe trouxer sensação
agradável, ela a repetirá (reação
circular = atividade motora com fins sensoriais), por isso que ao descobrir
que sugar a mão é prazeroso, se esforçará para manter a mão na boca. Também
nessa fase o reflexo de orientação se
desenvolve, a criança olha em direção ao que se escuta e os movimentos e
direção das mãos se coordenam com a direção dos olhos. A criança já busca
alcançar, apanhar e colocar objetos na boca.
Na
terceira fase: Reação circular secundária e os procedimentos para prolongar
espetáculos interessantes.
Por volta dos quatro
aos oito meses, é o estagio da inteligência prática a qual os bebês dirigem sua atenção ao ambiente tanto
para os objetos quanto para os resultados de suas ações. Começa a focar e
experimentar o mundo externo no qual o infante se lança a engatinhar e a
manipular objetos, torna-se cada vez mais empático com o seu entorno e começa a formar
noções bem básicas sobre causalidade. Propositadamente
repetem ações que trazem resultados interessantes e agradáveis, exemplo: um bebê
de quatro meses que dá pontapés para balançar brinquedos suspensos ao berço
para ouvir o som e ver os movimentos que ele produziu.
Reação
circular secundária, porque o infante descobre que uma
ação motora sua, pode lhe produzir sensações interessantes e daí ela vai
aprimorando suas tentativas a cada esforço seu de repetição, mas o que diferencia da Reação circular
primária é que na secundária as ações do bebê estão voltadas pra os resultados
que ela causa no ambiente enquanto que na primária suas ações são direcionadas
a descoberta e consciência dos movimentos do seu próprio corpo. As reações circulares secundárias
também são aplicadas às vocalizações, em que o bebê tenta imitar sons que são
selecionados pelos pais, ao reforçarem a emissão dessas vocalizações.
Na
quarta fase: Coordenação de esquemas secundários e sua aplicação a situações
novas.
Entre oito a
doze meses, a criança já desenvolveu as reações circulares secundárias na
fase anterior e começam a formar novas totalidades de comportamento, já estando
capacitada para coordenar seus vários
esquemas a fim de atingir um objetivo(intencionalidade).Nessa fase a
criança começa a formar melhor a relação entremeios e fins, por exemplo: ao
mostrarmos uma bola a uma criança com 5, 6 meses de vida e depois colocarmos
essa bola atrás de um obstáculo, a criança não terá a consciência de retirar o
obstáculo, para depois pegar a bola. Já uma criança com 9 meses de vida,
consegue idealizar esses passos, entende que retirar o obstáculo é um meio para
se conseguir chegar até a bola, que é o fim.
Também já formou a noção de objetos permanentes a criança atribui a existência de
objetos apesar de estarem fora do seu campo perceptivo, por exemplo: quando se coloca um objeto defronte a um brinquedo do seu
interesse, ela já tem a noção de que o seu brinquedo está ali, porém recoberto
por outro, então ela tem a iniciativa de ir e remover o objeto que a impedia de
ver o brinquedo. Portanto, nessa fase, a criança começa pouco a pouco a
armazenar representações visuais e sensoriais em sua memória e progressivamente
passa a compreender a objetividade do mundo e que as coisas existem
independente dela.
Na
quinta fase: A reação circular terciária e a descoberta de novos meios através
da experimentação ativa.
Por volta dos doze aos dezoito meses, com os seus
esquemas já desenvolvidos nas fases precedentes, a criança já age
voluntariamente e passa a atuar ativamente experimentando e descobrindo o
ambiente. Já desenvolveu a noção de
espaço, por exemplo, se lhe derem uma mamadeira pelo avesso, ela já saberá
situá-la na posição correta. A criança dessa fase tem extrema curiosidade e
genuíno interesse por novidades, portanto, ela vive experimentando e explorando
o mundo a sua volta. A criança faz bastantes experiências como soltar objetos
para vê-lo cair, puxa brinquedos em sua direção com barbantes, suas atividades
se tornam mais deliberadas, construtivas e originais. Piaget refere-se a esta
fase como “descoberta de novos meios através da experimentação ativa”.
Na
sexta e ultima fase: Invenção de novos meios através de combinações mentais.
Essa ultima fase ocorre um avanço cognitivo
extraordinário, entre dezoito meses e dois anos de idade, a criança inicia a
capacidade de responder ou pensar sobre objetos e eventos que não são
imediatamente observáveis. A criança é capaz de representar os acontecimentos
ausentes no campo perceptual através daquilo que Piaget chamou de imagens
simbólicas. Por meio das combinações mentais (imaginação e ideias) a criança passa
a inventar novos meios de atingir seus objetivos. Ela já possui imagens e
símbolos em seus pensamentos e consegue solucionar pequenos problemas, já
recorda, planeja, imagina e brinca de faz de conta. A criança pode, por exemplo:
usar uma vara como instrumento para puxar um objeto para si. Nessa ultima fase,
a criança se prepara para as adaptações intelectuais, simbólicas e conceituais
que virá a desenvolver mais no próximo estágio pré-operatório.
Por todo esse período sensório-motor que compreende desde
o nascimento até em torno dos dois anos de idade, a criança vivencia enormes
progressos cognitivos e seu desenvolvimento é gradual e contínuo.
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